Lançamento: Âncora revela bastidores e conflitos do Roda Viva, o mais influente programa de entrevistas da TV brasileira

Compartilhe esta notícia:

A revelação dos bastidores do mais influente programa de entrevistas da TV brasileira, cuja cadeira giratória vem sendo ocupada desde os anos 80 por protagonistas da vida do país, já renderia, por si só, um belo livro. Uma história dessa magnitude contada por um jornalista que esteve na linha de frente do programa, ganha relevância ainda maior. Em Como girei a roda, Ricardo Lessa, âncora do Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, de abril de 2018 a julho de 2019, faz um precioso relato de sua experiência como apresentador e das disputas e pressões por trás das câmeras.

É uma rara abordagem sobre o funcionamento de uma TV pública no país, que expõe os conflitos entre a prática do bom jornalismo, que demanda liberdade, independência e pluralismo, e os interesses de grupos políticos internos. São histórias reais, mas povoadas de fantasmas materializados sempre que esbarravam em interesses do governo de São Paulo, controlador da TV.

Como numa prestação de contas, afinal era pago com o dinheiro do contribuinte, Lessa apresenta um conjunto de situações desconhecidas do público, tais como: o que se leva em conta na escolha dos entrevistados, quem os escolhe, como se chega à lista de entrevistadores e as interferências contra ou a favor dos nomes propostos.

“Fica claro para qualquer principiante de jornalismo que, em nosso país, o exercício da liberdade de informação é uma luta constante. No Roda Viva não é diferente”, diz Lessa que em 2018 conseguiu reunir os principais candidatos à presidência e levou o programa a patamares de audiência e de repercussão nas redes sociais, raros na história da TV Cultura.

No prefácio de Como girei a roda, Eugênio Bucci, jornalista, professor e conselheiro da Fundação Padre Anchieta – instituição mantenedora da TV Cultura -, registra: “No panorama reportado por Lessa, a gente se dá conta de que a história do Roda Viva envolve duelos em que os interesses acomodados no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, têm participação constante. O estilo dos governantes varia, mas os interesses, segundo itinerários mais ou menos velados, mais ou menos constrangidos, sempre batem ponto. A vida é dura”.

Embora o relato seja focado no programa, o autor traz à tona também uma importante discussão sobre papel da imprensa num momento de acelerado processo de transformação da mídia, com forte impacto na sociedade; um livro de grande relevância, com orelha assinada pela jornalista Maria Cristina Fernandes, em que Lessa compartilha não só sua experiência à frente do Roda Viva e o olhar afiado, mas muito do conhecimento adquirido em mais de 40 anos de profissão.

O autor

Carioca, Ricardo Lessa nasceu em 1956; é jornalista desde os 19 anos. Começou como estagiário no Jornal do Brasil. Criou e editou o Hora do Povo e colaborou com O Pasquim. Trabalhou na revista IstoÉ e nas TVs Manchete, Globo e GloboNews. Em Washington, apresentou a Voz da América. Passou ainda pelo Relatório Reservado, Correio Braziliense, Gazeta Mercantil, portal Terra e Câmara Americana, em São Paulo. Entre abril de 2018 e julho de 2019, ancorou o Roda Viva da TV Cultura. É colaborador do Valor Econômico e da revista.

Quatro Cinco Um. Tem prêmios relevantes de jornalismo, entre eles Petrobras, Embratel, Icatu, Firjan e Onip (Organização Nacional da Indústria do Petróleo). Como girei a roda é o seu quinto livro.

Trechos do livro

“O exercício da liberdade de informação é uma luta constante. No Roda Viva não é diferente. Em uma televisão pública, que não se sustenta sem o dinheiro do governo, a tentação dos ‘acionistas majoritários’, ou seja, dos ocupantes de turno do Palácio dos Bandeirantes, de lançar mão de influências e interferências indevidas no jornalismo é para eles irresistível. E daninha para nós, imprensa e público”.

“Ao então candidato Bolsonaro, perguntei se ele estava preocupado, cercado por tantos jornalistas. Ele respondeu: ‘Espero que não seja um fuzilamento’, gracejou. ‘Não precisa se preocupar, porque aqui respeitamos os direitos humanos’. Respondi”.

“A normalização e banalização da substituição praticamente automática da presidência da TV Cultura no momento da troca do governador paulista são, por si só, uma demonstração de falta de independência e do descrédito na liberdade de informação e no debate.”

“O conjunto de entrevistas do Roda Viva representa hoje o maior e mais importante acervo de ideias sobre a vida brasileira já realizado pela televisão. Seu arquivo é um verdadeiro mapa da sociedade e do país. (Paulo Markun, ex-apresentador do Roda Viva).

“Este livro vem a público bem na hora de mudar velhos hábitos. Quando as emissoras públicas passarem a trabalhar para o direito à informação da sociedade, e não mais para as conveniências de imagem das autoridades, teremos uma pequena e benfazeja revolução”. (Eugênio Bucci, no prefácio do livro).

Compartilhe esta notícia: